terça-feira, 7 de agosto de 2012

Camadas temporais - Por Betelhem Makonnen

Série "O presente conjugado"
Fotografia - 2012

 
"A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente." ALBERT EINSTEIN

Trabalho pensando no tempo e na percepção deste. Penso no presente repleto do que passou e de tudo o que ainda virá a acontecer. Cada momento é uma navegação constante de todos os períodos da nossa vida: o passado, presente e o futuro. É só uma questão de prestar atenção para perceber que o tempo não é uma marcha progressiva e linear, mas um mergulho em um espaço profundo com passagens interligadas. Me interesso pela investigação dessas camadas temporais.



Série "O presente conjugado"
Fotografia - 2012

A série O Presente Conjugado é composta de fotografias que buscam mostrar a multiplicidade temporal através da presencia de uma distorção na imagem, que não só se torna um território adicional dentro da fotografia real, mas serve como diálogo entre esses territórios. A imagem criada mostra que todo momento é múltiplo e contém a essência de outras camadas temporais. Ando pelas ruas da cidade com a minha máquina fotográfica e meu finderscope [1] feito em casa procurando a evidência de um presente conjugado. Um presente distorcido por nossos sentidos, por nossas memórias, por interpretações do passado e do futuro em nosso movimento por meio do tempo. Equipada com a minha câmera e uma lente auxiliar, tiro fotos de edifícios altos, olhando para a rua. E da rua, tiro fotos olhando para cima, entre prédios e casas de diferentes bairros da cidade. Tiro fotos das janelas de táxis, ônibus e aviões. Ando na praia, focando o finderscope para o mar em busca da evidência contra a ilusão de um presente singular.

“O tempo é a substância da qual sou feito. O tempo é um rio que me leva junto, mas eu sou o rio, é um tigre que me devora, mas eu sou o tigre, é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo.” JORGE LUIS BORGES

"Os cientistas ainda não descobriram o que acontece no centro de um buraco negro. Alguns têm sugerido que o centro de um buraco negro é onde o tempo chega ao fim, enquanto outros propuseram que é um portal para um outro universo. " BRIAN GREEN, O Universo Elegante


Entretantos [detalhe]
2012

As pinturas da série Buracos Negros São Portas foram inspiradas pelas fotos da série O Presente Conjugado. Na tela sobreponho camadas de tintas variadas em cor e translucidez pensando em paisagens terrestres e cósmicas para criar um território multidimensional. Uso tinta acrílica e tinta a óleo, pastel oleoso e óleo paintstick. As pinceladas criam vias em um fluxo constante. Com tinta aguada, crio bolhas flutuantes, pensando nas imagens de telescópios e de lâminas microscópicas. Viro a tela diversas vezes, mudando constantemente a perspectiva. Permito que a fluidez das tintas crie ligações entre as cores, surgindo buracos e brechas atravessáveis. As pinturas desta série são o resultado do meu contínuo interesse na percepção do tempo e do meu fascínio pela capacidade de redução da velocidade do tempo que os buracos negros apresentam na proximidade das suas bordas. A minha intenção é a criação de imagens do que poderia estar por detrás desses buracos.



[1] Finderscope é um pequeno telescópio auxiliar montado no topo do telescópio principal e apontado na mesma direção. Geralmente tem uma ampliação muito menor do que o telescópio principal e, portanto, pode ver mais do céu, o que auxilia na localização do objeto astronômico desejado no céu noturno.


por Betelhem Makonnen, Rio, agosto 2012.
http://www.betelhemmakonnen.com/
 



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